domingo, 17 de setembro de 2023

Minha Alma Faquir

O corpo,
De
(não há segredo)
Carboidratos,
Proteínas, 
Lipídeos, 
Vitaminas e minerais,
Precisa.
O meu
Está bem cevado deles 
(até demais).

Pão e massas em doses ditadas pela gula;
Folhas coloridas às mancheias
(adoro folhas coloridas),
Verdes claras, escuras,
Brancas, amarelas, roxas;
Gorduras bem limitadas e moderadas,
Não pelo bom senso
Ou prescrição de nutricionista,
Mas pela providencial preguiça
De limpar a sujeira
Que uma fritura faz.

(meu corpo dorme satisfeito, saciado).

Já a alma,
É outro bicho.
Tem fome de outros víveres
E de outros viveres.
Que não se encontram em mercados,
Quitandas, padarias 
Ou
(Cruz credo!!!)
Em praças de alimentação de shoppings centers.

Tem fome de coisa viva,
A alma.
É predadora,
A alma.
Não carniceira, feito o corpo.

A alma saliva 
Por outras almas,
Que salivam pelo mesmo que ela.
Saliva por novas salivas, 
Novos primeiros beijos, 
Por meteoros e estrelas d'alva a riscar as retinas,
Por madrugadas com cheiro de vinho e bala de menta na escadaria de uma praça morta, 
Por olhares dilatados e cafeinados, 
Por sorrisos de dentes de chocolate branco,
Por um tango lascivo entre mãos apaixonadas e medrosas. 

Por outros,
Outros,
Outros
E outros 
Feijões-com-arroz,
Saliva
A minha alma famélica.
A minha alma,
Há tempos, 
Asceta faquir.

(Vaga insone pela casa, minh'alma,
Enquanto o corpo ronca e peida,
Locupleto)

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