domingo, 25 de fevereiro de 2024

Pequeno Conto Noturno (99)

01h12.

Rubens acaba de ler um Agatha Christie; quando antes folheava e desfolhava pequenos e grandes lábios. Rubens não está de todo brocha, mas raramente quer meter; mal punheta toca. Rubens, volta e meia, tem vestígios de ímpeto de foder, mas raramente está viril o quão preciso para isso, para devassar um cu. E um pau meia-bomba se dobrando e falhando ao tentar entrar num cu é coisa das mais tristes e patéticas que há.

Rubens não tem mais desejo de viver, tampouco motivação ou coragem para se matar. Ateu e cartesiano e pessimista que sempre foi, espera que a força que sempre o desperta, sadicamente, antes da ópera do galo, antes do bocejar com halitose do sol, um dia, conceda-lhe o espocar de um insabido aneurisma, uma asfixia, um engasgar fulminante do miocárdio.
 
E que uma madrugada chuvosa de meteoros seja a enfermeira a registrar em sua prancheta, em seu prontuário, a hora de sua morte, que ela lhe cortine as pálpebras dos olhos que há tanto já queriam não mais ver.

E que ela lhe beije a testa, e que seu batom barato seja o óbulo a Caronte. E que ao beijar-lhe a fronte, encaixe o vão, o decote, o abismo de seus grandes peitos em seu nariz batatudo, cheio de cravos, já um tanto esponjoso e eivado de microvasos rompidos pelo excesso de álcool. Que essa é a última lembrança que Rubens quer levar da vida : o cheiro de uns bons peitos.

Que levar riquezas e boas ações são ilusões de faraós e de cristãos cheios de culpa. Que ter esperança de uma outra vida é coisa de idiotas. Ou de gatos, que são os únicos que sabem o que é bem viver, que são os únicos a merecerem e a justificarem um refil de existência. Sete refis.

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