“Para vocês que estão vaiando, eu vou falar uma coisa: tem gente que
acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira! Tem gente que acompanha a
gente e é reacionário, tem gente que é bolsonarista. Isso não tem nada a
ver, gente”, disse Nasi. “Por favor, vão embora! Vão embora da nossa
vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos
discos, não apareçam mais. É um pedido que eu faço”.
Esta
fala, plena de tolerância para com as diferenças e a diversidade de
pensamento, este discurso, em tom conciliatório, plural e aberto a amplo
debate de ideias e posicionamentos, foi vomitada por Marcos Valadão
Ridolfi, vocalista da banda Ira!, que atende pela alcunha de Nasi, 63
anos e possivelmente, a julgar pela fala, já meio gagá.
Fala
típica de um esquerdista. Prega o respeito, mas um respeito
unidirecional, em direção a ele, claro; defende a multiplicidade de
concepções e juízos, desde que sejam iguais aos dele; acusa os
direitistas de extremistas, mas o faz de maneira hostil, belicosa e
fascista.
Alguns
chegam a cuspir em que pensa diferente deles : Jean Wyllys cuspiu em
Bolsonaro; José de Abreu, em um casal com quem discutiu em um
restaurante; Chico Buarque, em Millôr Fernandes. Pelo visto, quando o
esquerdista não tem mais nenhuma lição de sua cartilha para vomitar,
apela pro cuspe. Outros ainda, ameaçam quebrar a cara de seus desafetos,
como recentemente, sentindo-se ultrajado, o próprio Nasi mandou recado a
Roger Moreira.
Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é, já ensinava Lênin.
Esta
demonstração de respeito e gratidão para com o público, que é a fonte
de seus rendimentos, deu-se em um show realizado pelo Ira! em Contagem
(MG), em 28/03. Num dado momento, Nasi começou a vociferar contra a
anistia dos envolvidos no 8 de janeiro. Não deu outra : foi vaiado
retumbantemente por grande parte da plateia. A cujas vaias, respondeu
com a fala supratranscrita.
Quem
vai a um show quer ouvir as músicas de que gosta. Não quer aturar
vomitório pseudopolitizado, não pagou para aturar artista engajadinho.
Além
do mais, na época do governo militar, por exemplo, era fácil e muito
legal o artista gritar contra o sistema. Havia um consenso geral de que
os militares eram o grande problema da nação (nunca o país esteve tão
equivocado). O cara que gritasse contra os militares em cima de um palco
tinha a garantia de ser efusivamente aplaudido.
Hoje, não. A (tentar) crer nas nossas impolutas urnas, de códigos-fonte mais invioláveis que os do Pentágono, somos um país mezzo Bolsonaro mezzo
Lula. Dessa forma, qualquer artista que se posicione no palco contra
qualquer um dos dois, assume o risco de ser vaiado pela metade do
público presente.
Nasi disse : "Vão embora da nossa
vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos
discos, não apareçam mais”.
E não precisou pedir duas vezes. Um gênio da lâmpada, que
passava por perto, ouviu as súplicas do vocalista e prontamente
realizou seu democrático desejo. Talvez antes mesmo do que Nasi
esperava.
Ontem,
quarta-feira, 09/04, a produtora 3LM Entretenimento cancelou
oficialmente quatro apresentações da banda Ira!, parte da turnê Ira!
Acústico 20 anos, na região sul do país. Duas em Santa Catarina, nas
cidades de Blumenau e Jaraguá do Sul, e duas no Rio Grande do Sul, nos
municípios de Caxias do Sul e Pelotas. Depois da fala de Nasi em
Contagem, a produtora começou a receber inúmeros pedidos de cancelamento
dos ingressos adquiridos, assim como a desistência de vários
patrocinadores.
O
desejo de Nasi foi atendido. Os de direita não irão mais aos seus
shows. Uma demonstração de respeito ao pedido do cantor. Se fosse eu,
iria só pra vaiar!
Acontece
que o Sul do país é região de gente trabalhadora, gente direita, e de
direita. No sul, de modo geral, as pessoas têm registro em carteiras de
trabalho. Não em cadastros de esmoleiros oficiais e profissionais, como
ocorre mais a setentrional do país. Em terras assim, esquerdista não se
cria.
Hoje
em dia, no Brasil, o sujeito que trabalha honestamente para equilibrar
as contas da casa, e está minimamente de posse de suas faculdades
mentais, não é ou vota na esquerda. E nem precisa estar de posse de suas
faculdades mentais, não; não sejamos elitistas. Pode estar só de posse
de seus mobrais mentais, mesmo. De seus supletivos mentais feitos à
distância. Que já não é ou vota na esquerda.
Se
quiserem continuar a viver de shows, os integrantes do Ira! vão ter que
se contentar em tocar em Caetés, Garanhuns e adjacências.
A produtora 3LM emitiu um longo comunicado a respeito dos cancelamentos, do qual destaco o seguinte excerto : "Lamentamos o ocorrido, somos uma produtora com mais de 30 anos de
mercado e nosso principal patrimônio é o público, e este deve ser muito
bem tratado por nós produtores e pelos artistas, que deveriam subir ao
palco apenas para apresentar suas músicas e talentos".
Gosto
do Ira! Bastante. Continuarei a escutá-lo? Sim, por que não? Nasi só
pediu que não fôssemos mais aos seus shows, que não o enojássemos com
nossa presença, só pediu que não comprássemos mais os seus discos. Bom,
eu nunca fui a um show do Ira! Também nunca comprei um disco deles. Na
época da fita cassete, eu tinha músicas deles gravadas das rádios ou de
discos de amigos; hoje, tenho quase que a discografia completa deles,
tudo pirata, tudo baixado da internet. Então, sim. Continuarei a escutar
o Ira!
Quero dizer, continuarei a escutar por ora, por ora.
Vou esperar para ver como Nasi, outrora autodenominado o Wolverine brasileiro, reagirá a esse contragolpe dos de direita.
Posso
até respeitar o pedido rude e mal-educado de Nasi para que os da nossa
laia não mais deem a ele o desgosto de nossa presença. Posso respeitar,
sim. O show é dele. A casa é dele.
Mas
se, amanhã ou depois, o cara vier a público meio que a se retratar, a
dizer que sua fala foi tirada de contexto, que foi, sei lá, provocado ou outras canalhices com as
quais os esquerdistas costumam se sair quando pegos de calças curtas, aí
acabou. Aí, qualquer respeito ou admiração que eu possa ter pelo
sujeito se perderão. E será extensivo à sua obra.
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