Como
disse em várias oportunidades aqui, o bom e velho chifre é universal.
Ou melhor : para não soar arrogante e dizer que todo o resto do Universo
é obrigatoriamente assemelhado à Terra em suas formas de vida,
civilizações, hábitos, usos e costumes, direi, então, e agora com a mais
absoluta das certezas, que a sempre na moda peruca de touro é
planetária!
Urge,
inclusive, que o chifre seja tombado pela ONU e pela OTAN em Patrimônio
da Humanidade. O chifre é uma Instituição. A mais democrática e
inclusiva delas. O chifre não faz distinção, tão pouco discrimina
nacionalidade, etnia, cor, credo, classe social, nível de escolaridade,
gênero ou orientação sexual, ideologias político-partidárias, faixa
etária ou gosto musical.
O
chifre enfeitou, enfeita ou enfeitará a cada uma das incautas testas de
todo e qualquer habitante deste planeta. O chifre é feito consórcio de
carro : quando você menos espera, é contemplado.
E
cada cornudo reage diferentemente ao penduricalho, cada traído
demonstra um tipo de comportamento frente ao adereço que o boi só usa de
enxerido, posto que congenitamente do homem.
Tem
o corno bravo, o manso, o corno elétrico (tô ligado, tô ligado), o
corno Brahma (pensa que é o nº 1), o corno Bavaria (que compartilha a
mulher com os amigos), o corno ioiô (aquele que vai e volta), o corno
inflação (que o chifre aumenta todos os dias), o corno Xuxa (não larga
da mulher por causa dos baixinhos), o corno ateu (leva chifre e não
acredita), o crente (acredita que a mulher irá mudar), o corno
churrasquinho (põe a mão no fogo pela esposa), o corno socialista (que
divide a mulher com a comunidade), o corno pai de santo (chega em casa e
tira o caboclo de cima da mulher) e até o corno risadinha (que leu tudo
isso e tá rindo de todos os outros tipos de corno acima).
E
nesta semana, tomei conhecimento de um novo tipo de corno, desconhecido
por mim, até então. Corno é feito exemplares da fauna e da flora, a
cada dia, uma espécie nova é descoberta, descrita e catalogada.
É o corno do Folclore. O corno Câmara Cascudo!
Na
penúltima sexta-feira (21/03), um morador da zona rural da pequena e
pacata cidade de São Mateus (ES), exausto pela semana tirana de labuta,
precisando de descansar e dar uma relaxada, saiu com os amigos para
tomar umas cervejas, rolar um dadinho, jogar um bilhar. Diversão das
mais merecidas, uma vez que trabalhador de mãos calejadas, bom marido e
responsável provedor do lar.
Ao
fim da noite, despediu-se dos companheiros e pôs os pés à estrada, em
ajuizado retorno ao lar. Ao aproximar-se de sua residência, viu um vulto
preto, um ser indistinto, meio peludo, pulando pela janela do quarto e
sumindo na noite escura, uma figura defenestrando-se rumo ao breu e ao
matagal.
Assustado
e, principalmente, preocupado com sua santa mulherzinha, entrou de
peito aberto em casa, destemido e heróico, acorreu em socorro daquela a
quem desposou perante a lei dos homens e de Deus. Encontrou a esposa no
quarto, apavorada, toda descabelada, amassada, amarrotada, sem roupas e
com enormes hematomas roxos no pescoço.
- O que aconteceu, o que foi aquilo fugindo pela janela? - quis saber o corno.
- Um lobisomem, meu bem, um lobisomem invadiu a casa e eu tive que lutar com a criatura - contou a pudica esposa.
E
o corno acreditou! Lembrou das histórias que os avós e os antigos
contavam às crianças e ponderou que, de fato, havia muito lobisomem na
região nesta época da Quaresma.
O corno Câmara Cascudo tá certo. Não se brinca ou se zomba da Quaresma. É o período mais sombrio do Folclore brasileiro.
O
temor à Quaresma é tal que, ao longo de seus 40 dias, é instalado um
período de interditos : é proibido ouvir música, dançar, namorar, rir,
cortar e lavar os cabelos, bater pregos a uma parede ou tábua, descobrir
o santo, comer carne bovina ou de frango etc.
Todas
essas privações, teoricamente, protegeriam os cristãos das
assombrações, dos maus-espíritos, das mulas-sem-cabeças e, claro, da
mais temida das entidades que vagam pela terra dos vivos durante a
Quaresma, os lobisomens.
Via
de regra, o lobisomem transforma-se apenas nas sextas-feiras de Lua
Cheia e costuma ser pouco perigoso, atacando apenas pequenos animais e
bebês não batizados. Mas na Quaresma, ele fica atesuado, em tresloucado
cio, transforma-se todos os dias, fica mais violento e ataca tudo e
todos que passam por suas vistas. Sobretudo, como o ocorrido em São
Mateus, esposinhas virginais e desprotegidas.
Na Quaresma, usou saia e não é padre nem escocês, o lobisomem traça.
Abaixo, a esposa vitimada pela impiedosa criatura.
Não sou especialista em Folclore, tampouco em entes e criaturas fantásticas, mas esse modus operandi
não me parece coisa de lobisomem, não. Tá mais para chupa-cabras.
Chupa-cabritas, neste caso. Aquelas cabritinhas bem espevitadas e
barranqueiras.
Pããããããta que o pariu!!!!
Não acreditam em lobisomem nem em mim? Pensam que inventei essa história?
Fonte : Portal Capixabense
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