Como
dizem por aí, eu sempre andei mais que notícia ruim, sempre fui a pé
para cima e para baixo. Talvez até por isso eu nunca tenha me
interessado muito em tirar habilitação de veículos automotores, a famosa
CNH, e talvez por isso que, quando me lancei a tal empreita, já passado
dos 50 anos, fui um completo desastre.
Durante
a semana, nos dias erroneamente chamados de úteis, eu caminho
"naturalmente", entre a ida e a volta do trabalho, passar no mercado
etc., uma média de oito a dez quilômetros por dia. A exemplo, o registro
de minhas andanças e pernadas dos últimos dois dias. Sinceramente,
gosto de andar, sinto que me faz bem, física e, acho que mais ainda,
mentalmente.
Nos
fins de semana, geralmente apenas aos sábados - aos domingos, dou um
descanso para o motor e a lataria -, também saio pra caminhar pela
manhã. Há tempos não consigo dormir até tarde, e ainda que conseguisse e
quisesse, seria meio que impraticável. É começar a raiar o dia, a
cadelinha Pandora já se põe à beira da minha cama reclamando por ração e
a gata Nina pula na cama e começa a morder meu calcanhar ou
panturrilha. Normalmente, já estou acordado quando elas vêm me
"acordar", estou na cama só de bobeira, enrolando, mesmo.
Então,
levanto, faço festinha nelas (e também na outra gata, a Petruchia, essa
mais arredia, não pede nada, fica só na espreita e a reboque das
irmãs), dou-lhes as respectivas rações, vou pra cozinha, faço meu café,
escovo os dentes, visto-me e vou caminhar. Saio por volta das seis e
meia, sete da manhã.
Saio
de casa, subo uma meia dúzia ou pouco mais de quarteirões, entro na
marginal de uma rodovia, vou até a entrada de um shopping (mas não entro
nem a pau, detesto esses lugares), atravesso uma passarela por sobre a
rodovia, pego a sua outra marginal do outro lado e volto. Um trajeto de
cerca de oito quilômetros.
Como
todo bom atleta, preparo-me para a caminhada, faço questão de prestar
atenção e de cuidar muito bem da hidratação. A uns duzentos metros do
início da marginal da rodovia, há um posto de combustíveis com uma loja
de conveniência, Rede Sewall. Antes de pegar a marginal e me pôr em
ritmo mais acelerado de caminhada, passo pela loja, pego um latão de
Lokal, R$ 3,29 e inicio minha caminhada dando umas goladas.
Gatorade
é a puta que o pariu!!!! A cerveja é o repositor metabólico perfeito! O
sagrado líquido fornece energia ao organismo e o supre de vitaminas e
eletrólitos, uma vez que rico em carboidratos, vitaminas B3, B5 e B6 e
nos minerais, sódio, selênio, fósforo e magnésio; além de flavonoides,
substâncias antioxidantes.
Porém,
nos três últimos sábados, não pude me preparar adequadamente para a
caminhada. Até então, a loja de conveniência era muito pouco movimentada
nesse horário, por volta das sete horas, mas isso mudou de mais ou
menos um mês para cá. Está sempre cheia, com uma enorme fila a esperar
no caixa, que chega mesmo a se estender para fora do estabelecimento, às
vezes. E eu não vou enfrentar fila logo de manhã, caralho, não ficar no
meio de gente logo cedo, puta que pariu. Aí, pego e vou caminhar sem
meu isotônico, mesmo.
Neste
sábado próximo passado, na volta, a loja de conveniência já mais vazia,
resolvi entrar para resgatar o latão que deixei a me esperar mais pela
manhã. Então, absorto homem-caramujo que sou, toquei-me, enfim, do
motivo da fila enorme a empatar minha primeira golada matinal do sábado :
a outrora pequena loja havia sido ampliada, ganhara um anexo com
padaria. Só então me lembrei da faixa que permanecera muito tempo em sua
entrada, a dizer que estavam em reforma, a desculparem-se pelo
transtorno, mas que seria para um melhor atendimento ao cliente etc.
A
porra da reforma era para instalar uma padaria na loja! Pããããããta que o
pariu!!!! Loja de conveniência é pra vender birita, caralho. Quer
pãozinho francês, pão de queijo? Vão na merda de uma padaria, ora essa!
Agora,
a vizinhança toda acorda seis, sete da manhã e vai comer pãozinho e
tomar café na loja de conveniência! Loja de conveniência é lugar de
bebum! Estão invadindo nossa praia! Lugar de afrescalhados fazendo
breakfast e desjejum é na padaria gourmet! Que porra é essa, agora?
E
digo mais : o sujeito tem que ser muito doente mental, muito
pervertido, para acordar às seis horas da manhã pra comer pão...
pããããããta que o pariu!!! Não à toa, a fila era composta por figuras
paquidérmicas em sua maioria, tudo umas rolhas de poço, sedentários,
preguiçosos, todos afoitos em encherem os rabos de pão e bromato de
sódio.
Enquanto
que eu, em detrimento a esses pantagruéis, a esses infratores
reincidentes do pecado capital da gula, sou impedido de bem me preparar
para minha atividade física, de fazer um aquecimento para a minha
caminhada.
Rapaz,
eu tento me manter um velho sadio, seguir as recomendações médicas me
passadas pelo urologista em nosso anual dedinho de prosa, alimentar-me
frugalmente, disciplinar-me a uma atividade física regular. Mas tá
difícil. Não há incentivo nem mesmo apoio aos diligentes e aos
dinâmicos, apenas ao ócio e aos vícios do corpo e da mente.
Há
tempos que o Brasil se tornou em território hostil e inóspito aos
honestos e aos do bem. Pelo visto, está igualmente a se configurar em
relação aos que cultivam hábitos saudáveis de vida. Como dar uma boa
talagada de cerveja logo pela manhã.
A partir do próximo sábado, vou ter que sair de casa já levando uma. Vai ser o jeito.
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