Feito
um seminarista que cumpre com todos os seus créditos acadêmicos,
gradua-se em Teologia e Filosofia e, na hora de ser ordenado em padre,
desiste de seus votos, declinando assim da batina e do sacerdócio, sim,
eu também cursei o Catecismo, mas não tirei meu diploma, não fiz a 1ª
Comunhão.
Lembro-me do pequeno livrinho de catecismo. Monocromático, letras e ilustrações (bem toscas, inclusive) impressas em azul.
Cursei
o catecismo porque minha irmã, um primo e dois vizinhos - todos nós a
regular idades próximas - começaram a frequentar as aulas dominicais. E
também porque gosto de escutar estórias a la Carochinha.
Enfadonhas
e pouco imaginativas, as estórias do livrinho do catecismo. Perdiam de
longe para as fábulas e contos infantis que eu lia, por exemplo, em
Monteiro Lobato e na coleção O Mundo da Criança.
Passado
o Carnaval e ainda a tardar a Páscoa, estamos, pois, no período chamado
de Quaresma, que compreende 40 dias. Pelo que me lembro do catecismo, a
palavra Quaresma em si tem esse significado, quarenta dias. Dias que
são alusivos aos quarenta dias que Cristo passou no deserto, a jejuar e a
prosear com Satanás.
Ateu que sou, cago e ando para a Quaresma ou qualquer outro simbolismo católico-cristão.
Porém,
há algo que eu muito aprecio durante o período da Quaresma, algo pelo
qual chego a me babar de gosto : a quaresmeira. Nome popular da espécie Tibouchina granulosa. A
relação deve-se, primeiro, ao intenso roxo de suas flores, o mesmo roxo
dos panos que cobrem os santos durante esse período, e, segundo, por
ela florescer mais intensamente (ainda que não exclusivamente) nesta
época do ano.
Já
tem umas duas semanas que, à caminho do trabalho, tenho sido brindado
pela belíssima visão abaixo. A foto, acredite, não faz jus aos seus
roxos, muito mais profundos do que a lente e a inabilidade deste que vos
fala foram capazes de capturar.
Esta
formosura está plantada numa calçada em frente ao Bar do Renato, último
remanescente dos botecos das antigas e dos cervejeiros das antigas aqui
do bairro. No Bar do Renato, não tem nem cardápio, você pergunta e o
garçon responde na hora, nunca tem mais que duas opções de petiscos no
mesmo dia. O Bar do Renato só serve Antarctica, Brahma e Skol. Se o cara
se sentar lá e pedir uma Heineken, já é olhado com desconfiança, já
fica malfalado.
O
Bar do Renato abre às 9 da manhã e, via de regra, já tem uns dois ou
três esperando e reclamando do atraso. É o ponto de encontro de todos os
aposentados beberrões do bairro. Não é à toa que, à boca pequena, o Bar
do Renato é também chamado pelos moradores do bairro de o Bar do Pinto
Murcho.
E além desse ambiente salutar e familiar, o Bar do Renato também nos proporciona esta obra-prima da natureza, este quadro vivo.
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