terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Cagando e Enterrando

 
Pããããããta que o pariu!!!!!
Estamos mesmo a viver em tempos bicudos, ranzinzas e mal-humorados.
As pessoas perderam todo e qualquer senso de humor. Não são mais capazes de reconhecer uma simples piada, uma inofensiva brincadeira. Estão sempre prontas a reagir como se tudo que lhes dizem ou ouvem fosse uma ofensa, uma afronta.
Vivemos em tempos de ânimos e disposições armados até os dentes, belicosos, beligerantes.
 
Ontem, já ao fim do dia, ao voltar do trabalho, passei por uma pet shop para comprar uma pacote de granulado sanitário, vulgarmente chamado de areia, para as minhas duas gatas, a Petruchia e a Nina. Tarefa que sempre coube a mim e da qual, até por questões de orçamento doméstico, prefiro que seja mesmo eu a me ocupar.
 
A depender da minha esposa, ela compraria - como em algumas vezes já se deu - as variedades mais caras, as perfumadas, as ecológicas, as de sílica, as de calcário etc. Porra, é um produto pro gato cagar em cima, vou comprar coisa cara por quê? 
 
Granulado perfumado pro gato soltar um barro? Até já teve desses aqui em casa, mas em nada suaviza o cheiro da merda, antes pelo contrário, acaba inclusive o potencializando, pois lhe imprime o famoso Efeito Bom Ar, uma referência ao desodorizador que, aspergido no banheiro após uma senhora duma cagada, dá-nos a sensação de que alguém acabou de cagar embaixo de um pé de jasmim.
 
Portanto, assim como procedo em relação à cerveja, também compro do granulado mais barato, do bom e barato. Assim como procedo em relação à cerveja, vivo de olho em novas marcas com preços mais módicos. Compro-as e caso cumpram de acordo a sua função básica, que é absorver a umidade e o odor da merda, passo a utilizá-las amiúde.

Então, ontem, já entrei na pet shop sabendo o que ia comprar, o Granulado Brincat, marca que frequenta a caixa sanitária das gatinhas há uns três ou quatro meses, R$ 6,00 o pacote de 4 kg, quantidade suficiente para cerca de 10 dias. Ao lado dele, marcas de oito reais, de onze reais, de vinte e tantos reais.
 
Assim que peguei o pacote e o estava vistoriando à procura de algum eventual furo, uma senhora de uns 60, 65 anos chegou ao meu lado e falou : - nossa, eu nunca vi essa areia, tá com um preço bom, né, você já comprou dela alguma vez?
Respondi que sim, que já comprara dela algumas vezes. 
- E ela é boa, você gosta dela?
- Olha - disse eu -, na verdade, para uma resposta mais confiável, a senhora teria que perguntar pras minhas gatas, eu mesmo nunca usei.

Pra que fui falar isso? Foi aí que eu me fodi. A velha ficou tiririca da vida.
- Mas o senhor é um cavalo, hein? Vai ser grosso assim com a sua mãe.
E foi andando para o setor de rações da loja, ainda a vociferar impropérios contra mim.
Pãããããta que o pariu!!!!! A velha pôs até a minha santa genitora no meio.
 
Admito que é uma piada de tiozão (e eu já sou um tiozão; aliás, já sou até tio-avô), mas é uma boa piada, bem sacada, e tenho a pretensão que ela seja mesmo autoral, de minha própria lavra. Tive a oportunidade de lançar mão dela em apenas outras três ocasiões. 
 
A primeira vez ao dono da pet shop, quando da segunda vez que me viu comprando o Brincat. E ele riu. A segunda vez teve como alvo minha própria esposa, a quem, conhecendo-me há tempos, a piada não cheirou nem fedeu. A terceira, um rapaz talvez dos seus vinte anos, também na pet shop, que me fez a mesma pergunta da velha. Ele simplesmente me olhou com uma cara de parvo, comum aos da sua geração, olhou-me como quem nada havia entendido, ou como se eu fosse algum louco a quem alguém perguntasse as horas e o louco respondesse, hoje é 4 de fevereiro.

E a quarta, e provavelmente a derradeira vez, com essa véia encruada, que enterrou definitivamente qualquer pretensão futura de me lançar no mercado do stand up.
 
Tempos carrancudos, meus caros, tempo hostis e carrancudos.
Abaixo, o Brincat, o granulado da discórdia, aprovadíssimo pelas minhas gatas Petruchia e Nina. Que estão cagando e enterrando pra tudo isso.

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